Ulla Czécus – White Balance

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Balanço de branco
Toda vez que a fotometria era considerada adequada, minha avó Anália acabava subexposta e sua própria existência menos distinguível na imagem fotográfica. No acervo de documentos, objetos e álbuns de fotos herdados de minha família materna encontrei um caminho bipartido estabelecido em um casamento inter-racial, no início do século XX, em João Amaro – Bahia – Brasil. Encontrei poucas imagens dela desde que comecei a visitar a coleção de objetos e fotografias de família, há dois anos. Entrei neste arquivo pessoal levando comigo o que tinha: fotografias, cartas e documentos de Guilherme Vostal, meu avô. Ele estava em foco. Dele, homem, tcheco e branco, tenho as ligações familiares, as histórias, as memórias e os documentos preservados. Dela, mulher negra, só tenho o vazio e as dúvidas. Infeliz com a invisibilidade de minha avó Anália em meio a uma família majoritariamente branca e uma tecnologia cujos padrões a desconsideravam, empreendo uma busca pelo pedaço de história que me falta e que me constitui como pessoa. Procuro torná-la visível operando com uma noção dos dispositivos existentes para a produção da fotografia de seu tempo. O balanço de branco não corrigiu automaticamente a temperatura de cor para minha avó e a fotometria passou por cima dela. A tecnologia fotográfica sempre favoreceu a pele branca e distinguiu precariamente todas as outras variações de tom de pele nas imagens. Um balanço de branco, por brancos e para brancos.

Ulla von Czékus (Salvador, Brasil)
De sua mãe herdou o prazer e o fascínio pelo cultivo de plantas. Influenciada pelo pai – um fotógrafo amador que adorava produzir imagens de momentos em família –, desde a infância, aproximou-se da visualidade da fotografia. Já adulta, combinou essas duas ações para refletir sobre a transformação da própria vida. Ela explora, em seus trabalhos, não apenas imagens de estúdio do universo da botânica, mas também uma conversa entre a característica indelével do tempo e a impermanência da vida humana – idêntica às folhas, frutos e sementes que fotografa. Hoje, seu trabalho se concentra em pensar a vida como uma experiência contínua diante de seu resplendor e, ao mesmo tempo, de sua efemeridade marcante.

#Acessibilidade A Fundação Iberê conta com uma estrutura que permite o acesso de pessoas com diferentes condições e necessidades. A Instituição possui piso tátil, rampas, elevadores, banheiros adaptados, maquete da Instituição e audioguia da arquitetura para o público não vidente, que garantem o amplo acesso aos espaços.

O FestFoto – Edição 2022 é realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Itaú, realização da Fundação Iberê e co-realização da Brasil Imagem Produção Cultural.