Fotograma Livre 2022

Ana Sabiá


O gabinete de curiosidades da Srª.M.N.


Gabinete de curiosidades (ou quarto das maravilhas) podem ser considerados como precursores dos museus de história natural e artes, e formaram entre os séculos XVI e XVII, as diversas coleções de objetos raros ou estranhos dos três ramos da biologia considerados na época: animal, vegetal e mineral; além das realizações humanas. Importantes para muitas descobertas da ciência moderna ainda que, simultaneamente, considerassem opiniões e crendice popular. As coleções eram organizadas em quatro categorias nomeadas em latim: artificialia, naturalia, exotica, scientifica. O Gabinete de Curiosidades da Srª. M.N. busca apresentar a coleção de maravilhas da Senhora Maria-Ninguém, mulher que transmuta, em si mesma, em cada célula e sonho, uma vastidão de coleções: de etnias, de línguas, de dúvidas, de amores, de escolhas, de opressões, de lutas. A senhora M.N., exploradora de sua própria alma, embrenha-se em companhia geralmente de um livro ou música, na sua recôndita caverna na qual habitam seres mágicos e sensíveis. A pesquisa de campo é delicada porém sofisticada pelos meandros do afeto e da escuta. Os seres, quando encontrados, em tempos variados e variáveis de acordo com grau de maturação ou fascínio, não temem a interação, ao contrário, saem de suas obscuridades em luminescências fulgurantes. A Srª M.N., no frenesi de dar a ver suas descobertas, convoca então os seus grupos, continuidade dos quatro elementos, metamorfoses de tudo que nasce e habita corpos e fantasias imemoriais

Ana Sabiá (Florianópolis, Brasil)

Artista visual, fotógrafa e pesquisadora. Doutorado em Artes Visuais pela
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), na linha Processos Artísticos
Contemporâneo. Atualmente desenvolve pesquisas abrangendo corpo, surrealismo e auto-representação como estratégia política e de problematização feminina através da fotografia autoral.

#Acessibilidade A Fundação Iberê conta com uma estrutura que permite o acesso de pessoas com diferentes condições e necessidades. A Instituição possui piso tátil, rampas, elevadores, banheiros adaptados, maquete da Instituição e audioguia da arquitetura para o público não vidente, que garantem o amplo acesso aos espaços.

O FestFoto – Edição 2022 é realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Itaú, realização da Fundação Iberê e co-realização da Brasil Imagem Produção Cultural.

Luiza Kons – Em nome da mãe e do pai


Trabalho vencedor da categoria Portfólio da Convocatória Fotograma Livre


Dez anos após receber o diagnóstico de autismo, a artista apresenta uma obra que faz o inventário do seu próprio estranhamento. A série de autoretratos é construída na fronteira entre fotografia, literatura, representação e documentação. O esforço artístico é para dar conta da dificuldade em entender seus processos mentais, a formação de sua personalidade e a relação com os pais. Até os 18 anos de idade, ela não sabia como lidar com sua própria condição. Infelizmente, a demora no diagnóstico de ASD (desordem de aspecto autista) não é rara, principalmente entre mulheres, 25 por cento dos casos, segundo o CDC (Center for Disease Control and Prevention). Os critérios de avaliação tomam como base estereótipos do comportamento masculino e não enxergam as mulheres.

A obra reflete ainda o impacto do distanciamento social e da crise sanitária que provocou a morte de centenas de milhares de pessoas no Brasil.

Luiza Possamai Kons, (1993, Brasil)

Nasceu em Assis Chateubriand (oeste do Paraná), cidade marcada pela produção agrícola de escala e suas consequências ambientais e sociais.

“Sinto como se fosse um fragmento daquela terra”, explica a autora.

Desenvolveu as pequisas “Chèche Lavi: a vida de quatro famílias haitianas no sul do Brasil” e uma análise do livro “Juchitán de las Mujeres” da fotógrafa mexicana Graciela Iturbide. Considera a fotografia como uma ferramenta política que reflete as relações humanas e suas conexões. No seu processo criativo, discute gênero e pertencimento.

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José Roberto Bassul


O Sol só vem depois



“O sol só vem depois” é o refrão de um rap do Emicida que expõe as injustiças do mundo sem se desfazer da poesia. Feita durante a pandemia, esta série também adota um tom de desencanto. Imagens de elementos urbanos abordam as circunstâncias passadas ou permanentes nas quais enfrentamos, individual ou coletivamente, perdas, derrotas, frustrações, desilusões, medos. Praças e parques desertos, quadras de esporte sem uso, ruas vazias, caminhos escuros, moradas demolidas são signos de abandono que evocam sonhos perdidos. No entanto, permeadas por certo lirismo, por réstias de luz, as imagens sugerem também um terrário de esperança. Como se ainda houvesse semente no que parece fenecer. Como se as noites soubessem que o sol só vem depois…

José Roberto Bassul (Brasil)

Bassul nasceu no Rio de Janeiro e mora em Brasília. Licenciado em Arquitectura, define a sua fotografia como “uma tentativa de desenhar pensamentos, de projectar desejos, de construir espaços para a imaginação”. Recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o 1º lugar no 10th Prix Photo AF 2021, o Latin America Prize no FotoRio 2020, Book Photographer of the Year no Moscow Int’l Foto Awards – MIFA 2020, e 1º lugar no Int’l Photography Awards – IPA em 2018 e 2021. Publicado em revistas especializadas no Brasil, França, EUA, Inglaterra, México, Argentina, Itália e Espanha, seus trabalhos têm sido frequentemente exibidos em festivais, galerias e museus, em cinco mostras individuais e dezenas de exposições coletivas no Brasil e no exterior. Publicou os fotolivros Concretist Cityscape (2018) e On Barely Nothing (2020). Representado por galerias de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, possui obras em importantes coleções particulares, e nos acervos do Museu Nacional da República (Brasília), do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM (Joaquim Paiva Coleção), o Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR, a Coleção de Fotografia Diário Contemporâneo (Belém) e o Museu da Fotografia (Fortaleza).

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Federico Estol – Heróis brilhantes




São 3.000 engraxates que saem todos os dias pelas ruas dos subúrbios de La Paz e El Alto em busca de clientes. São de todas as idades e nos últimos anos se tornaram um fenômeno social na capital boliviana. O que caracteriza esta tribo é o uso de máscaras de esqui para que não sejam reconhecidos por quem os rodeia. Eles enfrentam a discriminação que enfrentam através dessas máscaras; em seus bairros ninguém sabe que eles trabalham como engraxates, na escola eles escondem esse fato, e até suas próprias famílias acreditam que eles têm um trabalho diferente quando descem de El Alto para o centro da cidade. A máscara é sua identidade mais forte, o que os torna invisíveis e ao mesmo tempo os une. Esse anonimato coletivo os torna mais duros diante do resto da sociedade e é sua resistência à exclusão que sofrem por realizarem esse trabalho. Há três anos colaboro com sessenta engraxates associados à ONG “Hormigón Armado”. Planejamos juntos as cenas durante uma série de oficinas de graphic novels, incorporando os elementos locais da urbanidade de El Alto e produzindo sessões fotográficas com eles como coautores de um ensaio fotográfico de rua para lutar contra sua discriminação social. Já estive lá e posso atestar que há sapatos que deslumbram graças aos superpoderes da família de engraxates que vivem em La Paz, os verdadeiros heróis do brilho.

Federico Estol (Uruguai)
Fotógrafo uruguaio, formado pelo Centro de Tecnologia de Imagem e Multimídia da Universidade Politécnica da Catalunha – BarcelonaTech. Atualmente trabalha como diretor artístico do festival SAN JOSÉ FOTO, promovendo o Photobook Club Montevidéu e como editor da editora El Ministerio Ediciones. Suas obras e publicações estão em várias coleções privadas e públicas, como a FOLA Latin American Photo Library em Buenos Aires, Tate Modern em Londres, Museum of Fine Arts em Houston, Museu da Fotografia em Fortaleza e o Tbilisi Photography & Multimedia Museum. Recebeu vários prêmios, bolsas e bolsas, recentemente homenageado com o prêmio Latin American Photobook pela CDF de Montevidéu 2014, o prêmio IILA Fotografía em Roma 2016, o prêmio FELIFA International photobook 2018, o Cosmos Arles PDF Award e o Discovery Award nos Encontros da Imagem Portugal 2019. Nomeado para o Prix PICTET , o Paris Photo–Aperture Photobook Award 2019 e o Meitar Award 2020

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Mateus Morbeck – REALEJO



REALEJO, 2020

Para George Orwell “Quem domina o passado domina o futuro; quem domina o presente domina o passado”, em sentido parecido, para Ariella Azoulay “a fotografia é uma tecnologia de extração” (…) “Explicar a fotografia com base na narrativa de seus promotores é como registrar a violência imperial nos termos daqueles que a exerceram, declarando que eles haviam descoberto um ‘mundo novo’”. Nesse cenário de tempos relativos e diversos, permeado por questões de representação e representatividade, REALEJO convida à reflexão sobre o quanto de antes existe no agora. Assim, como reflexo das relações humanas, o trabalho acontece a partir da sobreposição de fotografias da vida cotidiana contemporânea em imagens de painéis azulejares coloniais portugueses. Ancorado em vestígios do tempo passado no presente, o trabalho não se encerra em si mesmo e busca oferecer perguntas ao invés de respostas. Nada é uma coisa só.

Mateus Morbeck (1980, Salvador, BA)

Artista visual e arquiteto. Em sua produção reflete sobre as causas e consequências das ações humanas. Sua busca processual e metodológica se estrutura a partir do uso das tecnologias, antigas e atuais, mapeando, catalogando e reestruturando vestígios do rastro deixado pelos seres humanos, a partir da crença de domínio sobre a natureza. Numa perspectiva sistêmica, seu trabalho transita desde elementos pontuais a eventos de impacto global. A complexidade visual gerada pela profusão de camadas, imagéticas e de significado, se relaciona diretamente com a complexidade de compreensão das questões envolvidas. Nada é uma coisa só.

É autor do livro “MARÉ DE AGOSTO “, selecionado na categoria Artes Visuais do Prêmio das Artes Jorge Portugal. Participou de diversas exposições coletivas, além de Festivais e Salões de Arte, nacionais e Internacionais, inclusive com diversos trabalhos premiados/selecionados, com destaque para o Salão de Artes Visuais de Vinhedo/SP 2020, Salão de Artes Visuais Vírginia Artigas 2020, Salão de Artes Visuais da Galeria IBEU/RJ 2021, Festival Internacional Confluências de Artes 2020, Rotterdam Photo Festival 2021 e 2022, Festival Internacional de Fotografia – FestFoto Porto Alegre 2021, Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta 2020 e 2022, II Mostra Latino-Americana de Arte e Educação Ambiental – MOLA 2020, Bienal do Sertão de Artes Visuais 2021.

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Ulla Czécus – White Balance



Balanço de branco
Toda vez que a fotometria era considerada adequada, minha avó Anália acabava subexposta e sua própria existência menos distinguível na imagem fotográfica. No acervo de documentos, objetos e álbuns de fotos herdados de minha família materna encontrei um caminho bipartido estabelecido em um casamento inter-racial, no início do século XX, em João Amaro – Bahia – Brasil. Encontrei poucas imagens dela desde que comecei a visitar a coleção de objetos e fotografias de família, há dois anos. Entrei neste arquivo pessoal levando comigo o que tinha: fotografias, cartas e documentos de Guilherme Vostal, meu avô. Ele estava em foco. Dele, homem, tcheco e branco, tenho as ligações familiares, as histórias, as memórias e os documentos preservados. Dela, mulher negra, só tenho o vazio e as dúvidas. Infeliz com a invisibilidade de minha avó Anália em meio a uma família majoritariamente branca e uma tecnologia cujos padrões a desconsideravam, empreendo uma busca pelo pedaço de história que me falta e que me constitui como pessoa. Procuro torná-la visível operando com uma noção dos dispositivos existentes para a produção da fotografia de seu tempo. O balanço de branco não corrigiu automaticamente a temperatura de cor para minha avó e a fotometria passou por cima dela. A tecnologia fotográfica sempre favoreceu a pele branca e distinguiu precariamente todas as outras variações de tom de pele nas imagens. Um balanço de branco, por brancos e para brancos.

Ulla von Czékus (Salvador, Brasil)
De sua mãe herdou o prazer e o fascínio pelo cultivo de plantas. Influenciada pelo pai – um fotógrafo amador que adorava produzir imagens de momentos em família –, desde a infância, aproximou-se da visualidade da fotografia. Já adulta, combinou essas duas ações para refletir sobre a transformação da própria vida. Ela explora, em seus trabalhos, não apenas imagens de estúdio do universo da botânica, mas também uma conversa entre a característica indelével do tempo e a impermanência da vida humana – idêntica às folhas, frutos e sementes que fotografa. Hoje, seu trabalho se concentra em pensar a vida como uma experiência contínua diante de seu resplendor e, ao mesmo tempo, de sua efemeridade marcante.

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Isabella Finholdt – SEDE


SEDE é um desdobramento do meu primeiro projeto de longa duração “Antes de Ir” Antes de Partir”, junto à portaria de um condomínio é um dos únicos locais públicos de lazer do bairro Pq. Pinheiros (e talvez Taboão) apelidado de “sede” muitas vezes fotografei fora do complexo, em volta da ponte e da minha antiga escola, mas só em maio do ano passado comecei a frequentar o local (que inclui um parque, quadras e pistas de skate) e fotografar alguns grupos de adolescentes e jovens Fora do set eles têm mais liberdade e se reúnem com amigos de todos os outros bairros do município, fiz amizade com alguns deles e tenho acompanhado seus encontros e festas diárias. Para mim o nome ambíguo não poderia ser melhor: para quem a conhece, “sede” significa ponto de encontro, mas também como “sede” de quem tem um desejo voraz de algo, como sempre temos na adolescência e na juventude.

Isabella Finholdt (1993, Brasil)
Fotógrafa e fotojornalista freelance baseado em São Paulo, Brasil. É mestre em Artes Plásticas, fotografia, e desenvolveu um projeto documental sobre o lugar onde cresceu, “Antes de Ir” (2018 – Em curso), o seu trabalho centra-se maioritariamente em questões sociais e causas humanitárias.

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Bárbara Lissa e Maria Vaz


Quando o tempo dura uma tonelada



No dia 25 de Janeiro de 2019, o grande crime de desastre industrial, humanitário e ambiental ocorreu na barragem da Mina Córrego do Feijão/ Brasil, controlada pela mineradora Vale S.A., causando a morte de pelo menos 259 pessoas. No período, um grande volume de fotografias circulou nas mídias apresentando a cidade coberta pela lama, mas e o que acontece hoje, em 2021? O que reverbera no local como um continuum da história? Exatamente dois anos depois, fotografamos, com um filme 120mm, as alterações na atmosfera de Brumadinho por meio de uma proposta experimental para captar as sutilezas do que parece invisibilizado: a fina poeira tóxica do ar, a água contaminada do rio Paraopeba, as casas em processo de demolição, a lama coberta por capim. O que ainda tinha para ser visto, que persistia, foi fotografado sutilmente, quase às cegas: um horizonte desolado e casas abandonadas cobertas por capim. O uso desse filme nos proporcionou pensar as imagens conjugadas, sem separação por frames, construindo camadas e reconstruindo paisagens possíveis, imaginando o inimaginável, tentando capturar algo como se estivesse “pairando no ar” ou sob nossos pés. Como o filme foi revelado junto à água contaminada do local e à poeira de minério, a fotografia não apenas registra, mas torna-se a própria atmosfera local, o próprio cenário desolador do Estado de Minas Gerais, onde o ar se torna cada vez mais denso de poeira de minério de ferro, ao passo que as paisagens naturais são destruídas no horizonte.

Bárbara Lissa e Maria Vaz

Artistas ambas com trajetória nas Letras e nas Artes Visuais, atualmente mestrandas em Artes pela UFMG/EBA. O duo trata da relação entre a memória individual e coletiva, suas lacunas, apagamentos e ficções poéticas, dentro do universo familiar, coletivo e do espaço urbano e natural. Desenvolvem os trabalhos por meio da fotografia e do audiovisual, através de experimentações entre imagem e palavra, analógico e digital e apropriação de imagens de arquivo. Em 2019 foram finalistas do prêmio Foto em Pauta para publicação de fotolivros com o trabalho “Óris”. Em 2021 publicaram seu primeiro fotolivro “Três Momentos de um Rio”, com incentivo da Lei Municipal de Cultura de Minas Gerais, foram selecionadas pelo Prêmio Pierre Verger em Salvador, Brasil e pelo ciclo de exposições individuais do BDMG, Belo Horizonte. Ainda em 2021 tornaram-se membros da plataforma Mulheres Luz e foram selecionadas como estagiárias editoriais da plataforma ARCHIVO, Portugal- Londres.

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Kitty Paranaguá


Danaturezadascoisas e Dascoisasdanatureza



A última foto deste ensaio retrata 4 mulheres que me olham há alguns anos. Essa foto está na minha mesa de trabalho. Com estes olhares indagadores me pergunto: que desafio é esse que elas me lançam? O ensaio nasce da busca por entender esses olhares. Em que lugar fui atravessada? Dando atenção para as coisas que pertencem ao mundo além do real, entendi que era preciso materializar a pesquisa; materializar e tentar compreender. Nessa deriva, imagens recentes são costuradas a outras do meu próprio arquivo, rompendo temporalidades, formando uma trama, que lentamente vai ganhando corpo, e propõe, não respostas, mas uma circularidade. Há sim um percurso em espiral que tangencia, e nunca chega ao seu objetivo final. Uma busca sem fim em direção àqueles olhares.

Kitty Paranaguá (Brasil) Com quarenta anos de fotografia, iniciou sua carreira como repórter fotográfica no Jornal do Brasil. Sua obra retrata aspectos e espaços geográficos a partir da conexão que estabelece com pessoas, lugares, crenças e memórias.

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