República das Bananas

Diversos acontecimentos espalhados pelo globo parecem ter nos colocado em um estado de suspensão da realidade. A lógica não costuma ser mais a raiz de discursos, campanhas ou visões de mundo. Muitos argumentos distorcem ou simplificam realidades que envolvem o desenvolvimento sustentável deste planeta, a movimentação de populações vulneráveis e outros tantos temas que deveriam ser discutidos de maneira profunda e não com frases de efeito e propostas mal enjambradas.

República das Bananas é uma resposta a este estado de desilusão e desencanto político e social. O realismo surrealista da mostra é baseado em fatos reais, mas extrapolado ao mesmo nível de fantasia de tantos discursos recentes. O Estado criado por Shinji Nagabe se vê sob o jugo de um cruel e populista ditador, enquanto parte de seu povo se mantém cego ou construindo frágeis facetas aceitas por esta sociedade, que rapidamente se rompem e revelam aspectos inaceitáveis neste controlado ambiente. Do outro lado desta narrativa está uma rebelião que faz uso da mesma banana que cega e censura para construir suas armas e bombas caseiras. Esta resposta visceral, guerrilheira, abre caminho para o confronto direto com uma visão absolutamente retrógrada e conservadora.

Estão presentes no trabalho elementos centrais das transformações sociais e políticas vivida recentemente em tantos países: a violência, a religiosidade extremada e uma volta ao controle de costumes em um marcante retrocesso na garantia de liberdades individuais. Ao retratar de maneira satírica este universo, Nagabe expõe suas contradições e conexões com a realidade que vivemos ou tememos viver. O mergulho nesta república fictícia e sua ácida fantasia tropical pede uma reflexão sobre o papel de cada um nos rumos escolhidos para nossas comunidades e aqueles que ainda iremos escolher.

Felipe Abreu – Curador


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