Da zona leste para a zona leste: o artista visual Erick Peres integra a equipe do FestFoto Descentralizado.
Nascido e criado na zona leste de Porto Alegre, fotografar festas de aniversário era uma atividade rentável para Erick Peres,. Naquele momento, jamais teria contemplado a ideia de que seria artista.
Porém, as coisas que o rodeavam chamavam sua atenção, principalmente, aquilo que lhe incomodava. Sua resposta a essas questões foi fotografar. “Depois de um tempo, entendi que o que eu estava fotografando eram lugares que remetiam ao meu pai”, fala Peres.
Mesmo depois dessa conclusão, ele ainda mantinha aquelas percepções em sigilo. Contudo, a partir daquele momento, passou a entender seu trabalho como arte. Durante sete anos, Erick fotografou elementos que, mais tarde, fariam parte do seu livro “O Choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.
Seu trabalho permaneceu só seu, até que um dia compartilhou suas produções com um amigo. “Ele me disse que aquela história não era só minha, mas dele também, dos nossos amigos e especialmente das nossas amigas, que hoje criam suas filhas com a ausência dos pais. Comecei a perceber que quando falo de uma questão interna, eu estou falando de uma parada coletiva ”, conta Peres.
O martelo da certeza foi batido quando, ao sair do trabalho que, na época, ficava no centro de Porto Alegre, se deparou com uma programação do FestFoto, onde artistas falavam sobre suas exposições. “Foi ali que a porta se abriu na minha cabeça e eu soube que era aquilo que eu queria para a minha vida”, lembra Peres.
De volta à zona leste
Atualmente, Erick mora em São Paulo. Ele é artista visual e já expôs em lugares como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Instituto Goethe Munique. Em 2023, publicou “O Choro pode durar uma Noite mas a Alegria vem pela Manhã”, um livro com fotografias, cartas e arquivos que remetem a ausência do pai de Erick.
A obra, publicada pelas editoras Lovely House e Selo Turvo, foi reconhecida como livro do ano pela convocatória de fotolivros ZUM/IMS 2023, Revista ZUM e Biblioteca de Fotografia do Instituto Moreira Salles.
A presença de Erick na equipe do FestFoto – Descentralizado é a ponte pela qual o festival irá atravessar para chegar na periferia de Porto Alegre. O artista foi responsável pelo contato com Marina Schmidt, co-fundadora da agência Compromisso e que está atuando na comunicação e produção do projeto na Bom Jesus.
Além disso, Peres será o organizador do Expo Lambe, a exposição onde serão expostas as obras concebidas nas oficinas. “Também farei uma exposição no Centro de Educação Ambiental (CEA) da Bom Jesus com as imagens das oficinas e um memorial com fotos de famílias do bairro”, explica Peres.
O memorial será composto por uma foto de Marli Medeiros, fundadora do CEA, rodeada por imagens de pessoas da Bom Jesus. Também terão arquivos que falam da construção do bairro e sobre as famílias, que são em sua maioria compostas por matriarcas. “Quero dar ao meu bairro um outro ponto de vista que não tive na infância. Hoje eu sou um artista, mas também sempre serei um moleque da zona leste de Porto Alegre”, reflete Peres.
O FestFoto – Descentralizado é um projeto contemplado por edital da Fundação Nacional de Artes (Funarte). A iniciativa busca expandir os horizontes da fotografia, levando suas expressões e aprendizados para além dos limites tradicionais, envolvendo comunidades historicamente prejudicadas na distribuição de oportunidades culturais. A programação começa em maio e culmina em agosto, quando serão realizadas uma exposição de fotografia no formato Lambe e um Slam de fotografia nas comunidades.