A inquietação é o combustível de uma mente vanguardista e Alex “Pantera” Santos tem isso de sobra. Hoje com 59 anos, ele vive na comunidade da Bom Jesus desde os 12. Resistiu a uma época em que a negligência social era ainda mais profunda. “Posso dizer que minha atuação – como artista, ativista e educador – foi forjada ao longo da minha história. Não tenho um projeto cultural ou social, tenho um projeto de vida”, conta Pantera.
Depois de quase uma vida inteira dentro da comunidade, Alex passou a ter reflexões sobre o mundo, as pessoas e a necessidade de fazer algo. “Isso começou no final de 1990. Minhas vivências pessoais me colocaram em contato com pessoas com outro pensamento, além da periferia”, lembra Pantera.
Alex já foi garçom, trabalhou na colônia de férias da UFRGS e com construção civil. Foram experiências que o instigaram sobre a sua posição como pessoa dentro da comunidade. “Elas me fizeram pensar no momento que estava vivendo. Há muita violência no mundo, eu queria contribuir para superar isso de alguma forma”, explica Pantera.
Um lugar próprio
O momento de pôr sua expertise em prática chegou em 1996, quando ele passou a integrar algumas associações. Mas foi com o teatro que ele pôde descobrir seu lugar no cenário cultural da Bom Jesus.
Alex já estava envolvido com produções no Centro de Educação Ambiental (CEA) da Bom Jesus, onde Marli Medeiros trabalhava para a criação de um segmento cultural dentro da instituição.
Foi quando Tânia Medeiros, oficineira e atuadora, chegou na comunidade com o objetivo de promover uma oficina chamada “Teatro como instrumento de construção social”. Ela era do grupo teatral Ói Nóis Aqui Traveiz. “Nós já tínhamos um espaço consolidado, convenci a dona Marli a trazermos ela para cá, com o intuito de ter uma oficina de teatro para as crianças”, diz Pantera.
Ao contrário do que Alex pensava, a oficina era na verdade para pessoas acima dos 16 anos. Pois ali, também eram levantadas discussões sobre relações sociais e políticas com o teatro.
Ele já havia se prontificado a participar da oficina e não pode evitar o impacto que teve sobre si. As oficinas, os jogos me provocaram a pensar sobre o meu corpo, pois tenho um corpo, tenho braços, cabeças etc. Fui muito afetado por aquela atividade”, fala Pantera.
Intertítulo
Ano após ano, seu portfólio acumula produções culturais. Além de também integrar o Ói Nóis Aqui Traveiz, Alex possui uma produtora chamada DNA África. “Ela tem uma na espiritualidade e na cultura negra. Não posso produzir nada na Bom Jesus que não inclua os meus representantes na comunidade”, ressalta Pantera.
Quando o FestFoto – Descentralizado chegou na Bom Jesus, Marina Schmidt já se prontificou a incluir Alex na iniciativa. “Ela já me conhecia. Entre 2002 a 2008, eu trabalhei com a mãe dela. Então, ela foi uma criança que viu a mãe e a família dela tendo essa confiança em mim”, conta Alex.
Ele será o responsável pela curadoria do Slam de fotografia da Bom Jesus, que reunirá diversos artistas locais. Alex destaca que a comunidade é o verdadeiro centro, apesar dos esforços de tirar esse reconhecimento.
“Estou com os pés no chão, pois entendo esse fenômeno que está acontecendo e me sinto muito preparado para executá-lo. FestFoto 2024 …que bom que vocês encontraram a favela”, exprime.