Dando seguimento a um trabalho transgeracional na Bom Jesus, Marina Schmidt tem 26 anos, é formada em Gestão Pública e é co-fundadora da agência Compromisso. Ela é neta de Marli Medeiros, líder comunitária e fundadora do Centro de Educação Ambiental (CEA) da Bom Jesus.  

“Nasci e cresci dentro desse rolê. Vi minha família construir a instituição (CEA) e trabalhar à frente da gestão, criando diversas possibilidades de desenvolvimento social e cultural para a comunidade, tendo essa atuação muito forte na temática do feminino e dos direitos das mulheres”, conta Schmidt.

Marina ressalta ser uma pessoa privilegiada. Não no sentido financeiro, mas sim por ter tido apoio e suporte para seu crescimento como pessoa, mulher e indivíduo. “Eu tive a possibilidade de sonhar e ter o acesso à escola, saúde e a uma rede de proteção”, destaca Schmidt. 

Com uma base familiar forte, Marina se viu apta a encarar novos desafios. Ao concluir o ensino médio, com 17 anos, ela prestou vestibular para Direito, na PUCRS. Contudo, sem uma bolsa de estudos, as mensalidades ficaram pesadas. Além de que Marina acabou não se identificando com o curso em si. 

Depois de dois semestres, ela decidiu largar o Direito e recalcular a rota para uma nova carreira. Assim, se mudou para Santa Catarina, a fim de recomeçar. Porém, o diagnóstico de câncer terminal de sua avó, Marli, a fez retornar à Porto Alegre. 

“O meu vínculo com a minha avó é muito forte. Sou a única neta mulher e isso sempre foi um ponto de conexão entre nós. O prognóstico dela não era bom, por isso, decidi ficar ao seu lado”, recorda Schmidt. 

Recomeços

Com o falecimento da dona Marli, o quadro de colaboradores do CEA precisou ser revisto. Marina sempre teve sua vida pessoal entrelaçada com os trabalhos da instituição, mas foi nesse momento que ela passou a integrar a organização oficialmente. 

Em 2018, passou a ser educadora social do programa Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), vinculado à Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) de Porto Alegre. 

No mesmo ano, Marina prestou novamente o vestibular. Através do ProUni, ela ingressou no curso de Gestão Pública, na Escola Técnica Irmão Pedro. Foi um momento de virada, principalmente, para sua carreira profissional. Pois, além da faculdade, ela também participou da formação chamada “Empoderando Mulheres na Cadeia Têxtil”, uma iniciativa do Instituto Renner e do Instituto Elos.

“Essa formação me proporcionou a criação da agência Compromisso, um negócio de impacto social que funciona como uma incubadora dentro da instituição. Trabalhamos com moda, comunicação e empreendedorismo dentro do bairro”, relembra Schmidt.

A Compromisso

A agência Compromisso nasceu dentro do CEA em 2019. Marina, juntamente com sua equipe, identificou essa lacuna dentro da Bom Jesus. O mercado da comunicação, especialmente no ambiente digital, está em expansão. Mas nem sempre, atende as demandas dentro da comunidade.

Foi aí que ela percebeu que havia uma necessidade de criar uma narrativa própria sobre aquela realidade, abordando a comunicação de forma a combater a marginalização promovida pelas mídias convencionais. 

“Entendemos a comunicação como uma ferramenta poderosa para mudar percepções e promover a diversidade na prática. Hoje, falamos sobre sustentabilidade e responsabilidade social, mas muitas vezes, esses temas são tratados superficialmente por quem não vivencia as dificuldades de comunidades periféricas”, explica Schmidt. 

A Compromisso oferece curadoria, mentoria e produção para projetos de impacto social em parceria com empresas privadas, terceiro setor e poder público. A abordagem busca trazer pertencimento e protagonismo às pessoas que vivenciam as problemáticas rotineiras das comunidades. O trabalho também abrange o marketing digital atendendo campanhas publicitárias, produção de conteúdos e agenciamento de páginas. 

Há ainda o brechó Compromisso, fundado em 2022. “Se confunde muito a tendência que a moda coloca no momento com o que a gente precisa consumir enquanto pessoas. É uma questão de imposição daquilo e excluírem um aspecto de identidade e pertencimento”, conta Schmidt. 

Descentralizado na Bonja

Ao lado da DNA África – gerenciada pelo produtor cultural Alex Pantera – a Compromisso está trabalhando diretamente na produção, comunicação e execução das oficinas e eventos do FestFoto – Descentralizado. 

“Quando falamos sobre trabalho, geralmente pensamos no mercado convencional, mas precisamos abrir as possibilidades de explorar outros possíveis nichos de mercado. Isso nos traz a expectativa de descobrir novos talentos dentro da periferia”, expõe Schmidt. 

Ao assumir o legado de sua avó, Marina traz oportunidades e novas perspectivas à comunidade. Através da agência Compromisso, seu trabalho é imprescindível para a execução do Descentralizado, que chega à Bom Jesus e ao Morro da Cruz para promover a arte da fotografia nos centros de ambas as regiões da ZL portoalegrense.