Parte integrante de um território descrito pelos viajantes europeus com expressões como selvagem, indomável, desconhecido, perigoso, a região Amazônica e particularmente sua floresta que atravessa países e regula regimes naturais, sempre foi para o ser humano como algo “fora da natureza humana” e local sobre o qual o imaginário popular que predomina entre os que nunca nela pisaram ainda é o europeu de séculos atrás.
A experiência vivida por povos que nela se adaptaram e com ela passaram a viver, narram o oposto e essa experiência pode ser resumida em uma expressão que é universal: respeito. Se as florestas tropicais regulam regimes naturais, não seria também natural que o respeito regulasse a relação dos seres humanos com elas?
Existem inúmeros exemplos de fotógrafos que, atraídos pela narrativa européia, foram em busca de imagens que confirmassem ou discutissem essas narrativas. Alguns outros se despiram das pré-narrativas e foram atrás daquilo para o qual a fotografia tem uma vocação: subjetividades que nos ajudam a entender questões que não estão nos livros nem nos bancos escolares, mas sim no viver a experiência, como o fazem os povos das florestas, ribeirinhos e povos indígenas.
Thiago Guimarães Azevedo é um exemplo da busca pela experiência que traga a não necessidade da explicação. Ao recusar as narrativas prontas e buscar a experiência orgânica e interativa, nos traz um conjunto de subjetividades que deixam outras em suspensão. Não é essa uma das vocações da fotografia?
O trabalho inscrito na Convocatória do FestFoto 2021 e que recebeu o do júri internacional o prêmio da Categoria portfólio monta um painel visual de aprendizados pessoais. Mas existe um outro dado nessa experiência do Thiago, que é o fato de morar na região e se sentir desafiado a criar uma intermediação com o “externo” mas a partir de imagens que se “manifestam nele” a partir de impulsos locais específicos, conforme suas próprias palavras.
E não há como não abordar nesse trabalho, a coincidência conjuntural no momento em que o mundo vive a experiência de perdas de vidas que entre suas representações mais fortes estão imagens de cemitérios lotados cercados de ambiente urbano. Thiago encerra sua série com a imagem de um pequeno cemitério dentro da floresta cercado de mata em um outro contexto completamente diferente para a experiência da morte.
O trabalho de Thiago Guimarães Azevedo vai ser exibido na íntegra no formato de vídeo-exposição, a partir do dia 24 de abril, data da abertura oficial do FestFoto 2021.