Em Minas Gerais, não é raro que uma montanha emita algum tipo de recado e os povos que vivem entre serras têm a essência delas entranhada em sua cultura e são capazes de ouvir. José Miguel Wisnik, em seu recente Maquinação do Mundo – Drummond e a Mineração (2018), sugere um diálogo entre Rosa e o poeta itabirano. As montanhas têm voz, tanto em O Recado do Morro, quanto no aclamado poema A Máquina do Mundo, porque elas são um reservatório de experiências humanas coletivas imensuráveis. Não por acaso, a mineração brasileira é leitmotiv na obra de Drummond, ele que passou parte de sua juventude de janelas abertas para o cenário inaugural da desventura mineral do país: o Pico do Cauê. Pois o poeta talvez tenha sido a principal voz a ecoar o grito emitido pelos grotões que já se previam futuras vítimas da incipiente história do extrativismo mineral nacional. Este texto base, foi a bússola para curadoria do fotógrafo Rodrigo Zeferino para uma sala dedicada ao território de Minas no FestFoto 2020 dentro do núcleo expositivo dedicado a territórios. Reunindo obras da fotógrafa Julia Pontés e dos fotógrafos Pedro David e João Castilho, assim como do próprio Rodrigo Zeferino, a videoexposição nos leva aos caminhos entre montanhas, extrativismo predatório, desvios de vidas e o inevitável buraco resultante da extração de riquezas, que nesta exposição se mostra em diversas camadas da natureza e das obras humanas.
13 FestFoto – Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre
FestFoto 2020 – FestFoto Digital
