Lampejos – de Delfina Rocha

“Lampejos”, um vídeo de Delfina Rocha, explora uma jornada pessoal e histórica
desencadeada pela recente descoberta de sua ancestralidade judaica sefardita. A obra
investiga questões como tempo, espaço, pertencimento e memória, utilizando uma abordagem
artística que mescla o passado e o presente.

Delfina mergulha em suas raízes, coletando fragmentos de memórias e esquecimentos que
surgiram ao longo do processo de reconstrução de sua herança. Ao revisitar seus arquivos, ela
compõe um mosaico de imagens atemporais, criando um fluxo descontínuo e remontado de
sua narrativa imaginária. Este trabalho está intimamente ligado aos seus antepassados
marranos (judeus espanhóis e portugueses que se converteram ao cristianismo, muitas vezes
sob coerção, mas continuaram a praticar o judaísmo em segredo), que se refugiaram no sertão
nordestino durante a Inquisição no Período Colonial. A artista construiu uma máquina com engrenagens rudimentares, onde o espectador pode girar uma manivela para animar seu “filme” imaginário.

Essa interação permite várias combinações de imagens sobrepostas, evocando lampejos de memórias de sua conexão ancestral. O vídeo resultante dessas combinações oferece uma experiência visual única, onde passado e presente se encontram de maneira poética e introspectiva.
“Lampejos” é uma celebração das múltiplas mulheres que precederam a artista, marcadas por
alegrias, sofrimentos, misturas, religiosidades, perseguições e lutas. A obra reflete a
continuidade dessa herança e a perpétua influência dos ancestrais sobre o presente, com a
artista consciente de que, um dia, também será ancestral de alguém, perpetuando essa rica
tapeçaria de histórias e memórias.

Sobre a artista:
Delfina Rocha é formada em Filosofia, mas seguiu na carreira de fotógrafa. Entre 1982 e 1986,
atuou como assistente de Chico Albuquerque, pioneiro da fotografia no Brasil. Em 1987, Delfina
deixou o Ceará e mudou para o Sudeste, onde trabalhou como fotógrafa de publicidade e de
cena para cinema, dividindo-se entre Rio de Janeiro e São Paulo até 1993.

Em 1995, retornou a Fortaleza, sua cidade natal, e abriu seu próprio estúdio, voltando-se para
o mercado publicitário e editoriais de moda. Após três décadas dedicadas à fotografia
comercial, em 2015, Delfina decidiu retomar os estudos acadêmicos e voltou-se para a
fotografia autoral, explorando temas como memórias, pertencimento e identidade.
Desde então, tem participado de diversas formações e grupos de estudos sobre a imagem
contemporânea. Em 2019, integrou o coletivo “Sol para Mulheres” e o grupo de estudos
“Imagem é Pensamento”. Sua trajetória é marcada pela participação em exposições, convites e
premiações, consolidando seu lugar na cena artística contemporânea.