Bárbara Lissa e Maria Vaz

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Quando o tempo dura uma tonelada



No dia 25 de Janeiro de 2019, o grande crime de desastre industrial, humanitário e ambiental ocorreu na barragem da Mina Córrego do Feijão/ Brasil, controlada pela mineradora Vale S.A., causando a morte de pelo menos 259 pessoas. No período, um grande volume de fotografias circulou nas mídias apresentando a cidade coberta pela lama, mas e o que acontece hoje, em 2021? O que reverbera no local como um continuum da história? Exatamente dois anos depois, fotografamos, com um filme 120mm, as alterações na atmosfera de Brumadinho por meio de uma proposta experimental para captar as sutilezas do que parece invisibilizado: a fina poeira tóxica do ar, a água contaminada do rio Paraopeba, as casas em processo de demolição, a lama coberta por capim. O que ainda tinha para ser visto, que persistia, foi fotografado sutilmente, quase às cegas: um horizonte desolado e casas abandonadas cobertas por capim. O uso desse filme nos proporcionou pensar as imagens conjugadas, sem separação por frames, construindo camadas e reconstruindo paisagens possíveis, imaginando o inimaginável, tentando capturar algo como se estivesse “pairando no ar” ou sob nossos pés. Como o filme foi revelado junto à água contaminada do local e à poeira de minério, a fotografia não apenas registra, mas torna-se a própria atmosfera local, o próprio cenário desolador do Estado de Minas Gerais, onde o ar se torna cada vez mais denso de poeira de minério de ferro, ao passo que as paisagens naturais são destruídas no horizonte.

Bárbara Lissa e Maria Vaz

Artistas ambas com trajetória nas Letras e nas Artes Visuais, atualmente mestrandas em Artes pela UFMG/EBA. O duo trata da relação entre a memória individual e coletiva, suas lacunas, apagamentos e ficções poéticas, dentro do universo familiar, coletivo e do espaço urbano e natural. Desenvolvem os trabalhos por meio da fotografia e do audiovisual, através de experimentações entre imagem e palavra, analógico e digital e apropriação de imagens de arquivo. Em 2019 foram finalistas do prêmio Foto em Pauta para publicação de fotolivros com o trabalho “Óris”. Em 2021 publicaram seu primeiro fotolivro “Três Momentos de um Rio”, com incentivo da Lei Municipal de Cultura de Minas Gerais, foram selecionadas pelo Prêmio Pierre Verger em Salvador, Brasil e pelo ciclo de exposições individuais do BDMG, Belo Horizonte. Ainda em 2021 tornaram-se membros da plataforma Mulheres Luz e foram selecionadas como estagiárias editoriais da plataforma ARCHIVO, Portugal- Londres.

#Acessibilidade A Fundação Iberê conta com uma estrutura que permite o acesso de pessoas com diferentes condições e necessidades. A Instituição possui piso tátil, rampas, elevadores, banheiros adaptados, maquete da Instituição e audioguia da arquitetura para o público não vidente, que garantem o amplo acesso aos espaços.

O FestFoto – Edição 2022 é realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Itaú, realização da Fundação Iberê e co-realização da Brasil Imagem Produção Cultural.